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sexta-feira

O olhar dos pais no crescimento dos seus filhos.


Cada família tem sua característica própria nas relações entre pais e filhos. Grande parte dessa personalidade vem da criação que os pais tiveram na infância e o tipo de formação e desenvolvimento existentes no ambiente familiar em que viviam. Muito dessa instrução que os pais receberam na infância será repassada aos seus filhos da mesma maneira ou da maneira oposta do que foi vivido.
Através dessas observações, diferentes pesquisas destacam a importância das práticas e dos estilos parentais (dos pais) para a compreensão da família principalmente no desenvolvimento da criança e do adolescente.
A prática parental se resume como a maneira em que os pais encontram de socializar seus filhos. Corrigindo os comportamentos da criança para alcançar princípios morais e garantir a independência, a autonomia e a responsabilidade dos mesmos (utilizando o controle, disciplina, valores e objetivos). O estilo parental além de inclui as práticas parentais, caracteriza-se pelo modo em que a relação pais/filhos é vivida (por exemplo: tom de voz, afeto, atenção), gerando um clima emocional familiar.
Para os psicólogos é de extrema importância conhecer o meio emocional familiar e as consequências que isso pode ter no desenvolvimento da criança. Pode-se dizer que as características comportamentais e psicológicas variam em função da união entre as práticas e a influência dos estilos parentais. Isso explicaria por que o uso de práticas iguais, por famílias com estilos parentais diferentes, geram resultados diferentes nos comportamentos infantis.
Alguns testes foram feitos para facilitar a comunicação e o andamento da terapia entre pais e psicólogos com o objetivo de reconhecer qual o estilo parental que os pais que procuram ajuda terapêutica se identificam.
Jeffrey Young, psicólogo que criou a terapia focada nos esquemas (baseada na terapia cognitiva de Aaron Beck; ver: Fundador da Terapia Cognitiva e O que é a Terapia Cognitiva) desenvolveu alguns testes que identificam os estilos parentais. Para ele os esquemas são definidos como crenças e sentimentos tomados como verdades sobre si mesmo e sobre o mundo. Eles se desenvolvem principalmente na infância e na adolescência e a realidade é interpretada através das experiências que influenciam as interpretações futuras. Quando esses esquemas se tornam incompatíveis com a realidade podem causar vários problemas psicológicos, sociais e familiares.
Na terapia dos esquemas de Young existem cinco categorias de esquemas disfuncionais baseados nas necessidades emocionais que não são atendidas na infância. Eles podem identificar qual o estilo parental que uma pessoa se identifica, baseando-se nas características de sua família de origem.  Eles são:
  1. Desconexão e Rejeição: Falta de vínculos seguros e satisfatórios com outras pessoas. As famílias de origem apresentam instabilidade, frieza e rejeição. As pessoas criadas nesse meio tendem a passar de um relacionamento autodestrutivo a outro ou evitam relacionamentos íntimos, pois acreditam que suas necessidades não serão atendidas. Quando se tornam pais, podem repetir essas dificuldades de relacionamento com seus filhos, privando-os emocionalmente, abandonando-os e dificultando as interações sociais deles com outras pessoas.
  2. Autonomia e Desempenho prejudicados: Esquemas relacionados à falta de experiências relacionadas à independência. As famílias de origem criaram um vínculo de dependência muito grande com a criança que não teve muitas experiências sozinhas ou sem a ajuda dos pais. As pessoas criadas nesse meio desenvolvem um sentimento de insegurança, fracasso e incompetência. Quando se tornam pais, podem apresentar dificuldades de lidar com situações simples na criação de seus filhos como birras até resfriados.
  3. Limites prejudicados: Esquemas relacionados à falta de desenvolvimento de limites internos adequados. As famílias de origem não deram limites à criança, sendo permissivas e tolerantes demais. As pessoas criadas nesse meio são muitas vezes egoístas, mimadas, irresponsáveis ou narcisistas. Quando se tornam pais, sempre colocam a culpa do mau comportamento de seus filhos na escola ou em outra pessoa, pois acreditam que são perfeitas na educação de seus filhos. Tendem a repetir a mesma criação que tiveram com seus filhos.
  4. Direcionamento para o outro: Esquemas relacionados à falta de liberdade de escolha. As famílias de origem não deram à criança a liberdade de seguir suas vontades e desejos. Sendo que essa criança obteve amor e atenção somente quando atendia às vontades dos seus pais, perdendo sua naturalidade. Pessoas criadas nesse meio geralmente atendem exageradamente às necessidades dos outros em nome de aprovação. Quando se tornam pais, se libertam e têm uma dificuldade na educação de seus filhos, pois acham que estão sempre se sacrificando demais pelo outro e cobram atenção e aprovação de seus pares e/ou filhos.
  5. Supervigilância e Inibição: Esquemas relacionados à  falta de expressão emocional e reconhecimento. As famílias de origem geralmente são inflexíveis tendo uma postura crítica ou punitiva exagerada. Pessoas criadas nesse meio negam seus sentimentos e espontaneidade para conseguirem seu objetivo ideal chegando à perfeição, mesmo que custe sua felicidade, seus relacionamentos e até mesmo sua saúde. Quando se tornam pais, costumam ser duros e rígidos com seus filhos, exigindo altos padrões de desempenho. Um exemplo seria questionar a criança que tirou 9,2 em uma prova valendo 10 por sua falha de não ter tido o desempenho total ao invés de parabenizá-lo pelo ótimo resultado.
Esse tipo de definição parental é muito importante para que os pais reconheçam qual o seu olhar em relação a uma boa criação e educação para seus filhos e como se comportam nessa tarefa. 
A identificação parental ajuda o terapeuta na escolha de uma melhor intervenção para o tratamento e ajuda principalmente a criança, que terá um desenvolvimento mais adequado e preventivo de futuros problemas em sua vida adulta.


Fonte: CAMINHA, M.G. & CAMINHA, R.M. (2011) Intervenções e Treinamento de Pais na Clínica Infantil. Porto Alegre, Ed. Sinopsys.
CAZASSA, Milton José  and  OLIVEIRA, Margareth da Silva. Terapia focada em esquemas: conceituação e pesquisas. Rev. psiquiatr. clín. [online]. 2008, vol.35, n.5, pp. 187-195. ISSN 0101-6083.  http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832008000500003. 




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